A culpa é do modelo?

Toda a discussão relativa a Pontos de Carregamento também conhecidos por EVSE (Electric Vehicle Supply Equipment) vem para aqui.
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alexmol
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A culpa é do modelo?

Mensagem por alexmol » 11 dez 2020, 10:11

Dia 11 de Dezembro de 2020, o panorama em Portalegre é o seguinte:
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Existem 3 postos disponíveis:
  • Um PCN 2x22kW (não concessionado) do OPC EDP Comercial
  • Um PCN 2x22kW (não concessionado) do OPC Powerdot no E.Leclerc
  • Um PCR 50kW do OPC Powerdot no E.Leclerc
O PCN da EDP Comercial tem um custo OPC de 0,05€/min resultando num preço final médio de 0,39€/kWh para quem tenha carregador interno de 22kW.
O PCN do E.Leclerc EDP tem um custo OPC de 0,04€/min resultando num preço final médio de 0,36€/kWh para quem tenha carregador interno de 22kW.
O PCR tem um custo OPC de 0,10€/min resultando num preço final médio de 0,34€/kWh para quase todos os VE com carga rápida.

Para quem tenha um VE com carregador interno de 11kW os preços nos PCN passam para 0,55€/kWh e 0,49€/kWh.
Para quem tenha um VE com carregador interno de 7.4kW os preços nos PCN passam para 0,70€/kWh e 0,61€/kWh.

A minha questão é:
Esta realidade, em que fica mais barato carregar em PCR do que em PCN, deve-se ao modelo Mobi.E ou a outras condicionantes da realidade portuguesa relacionadas com a carga fiscal e burocrática das redes eléctricas e infraestruturas em locais públicos?

Por outras palavras, se não existisse o modelo Mobi.E e fosse como em Espanha (por exemplo) onde cada OPC é livre de cobrar o que quiser também acabaríamos por chegar a esta estrutura de preços ?

ATENÇÃO que não estou a perguntar se ficaríamos com preços mais baratos no geral, estou a perguntar se também ficaríamos com PCN mais caros que PCR.
Alexandre Moleiro

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Re: A culpa é do modelo?

Mensagem por mjr » 11 dez 2020, 10:51

Não vejo relação com o modelo tendo em conta que a diferença no preço é apenas na parte OPC, e que este valor é líquido de qualquer taxa para o OPC.
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Re: A culpa é do modelo?

Mensagem por BrunoAlves » 11 dez 2020, 11:47

Eu acho que é, pelo menos parcialmente.

Como já disse imensas vezes, o grande problema do modelo é que não permite ao OPC obter as melhores condições possíveis para a compra da electricidade. Em resultado disso, o UVE paga sempre a energia a um custo que pode ser desproporcional em relação ao que podia ser.
No caso do exemplo, o PCN do E. Leclerc tinha todas as condições para ter um custo do fornecimento de energia muito mais baixo. Veja-se o caso dos PCN do Continente.

Onde o modelo pode não ter culpa será no outro PCN EDP (não sei onde é que ele está) ou nos imensos postos isolados que existem por aí espalhados. Nesses casos não vejo forma de tornar aquilo nem justo para o operador nem para o UVE. Uma baixada dedicada para cada posto não tem como ser eficiente.

A questão do custo de operação do posto à luz do modelo actual, já discutimos largamente noutros tópicos: 5cts/min é demasiado para a maioria dos VE sem dúvida, eu não queria para mim um negócio que tivesse um retorno bruto máximo de 1,8€/h (ou seja 3cts/min o que já assim não é simpático para 7,4kW ou menos), provavelmente acaba por ser muitíssimo menos por causa da baixa ocupação média. A única forma de tornar os PCN justos para o OPC e UVE é integrá-los em fornecimentos e instalações existentes. Postos isolados com fornecimentos dedicados nunca poderão ter custos justos.
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Re: A culpa é do modelo?

Mensagem por rimsilva » 11 dez 2020, 12:23

Concordo com a opinião do Bruno, aliás acho que somos as pessoas que mais vezes têm repetido a questão do OPC não poder negociar a compra da energia, ou até produzir.

Depois há efectivamente este aparente aproveitamento dos OPCs ou simplesmente não querer saber do preço final (assim como o CEME), o que a meu ver, se traduz em mais uma desvantagem deste "modelo".
Se a tudo isto adicionarmos a falta de concorrência em muitos locais, temos este tipo de situações.

Um custo por minuto de 0,05€ ou 0,04€ não é mais caro do que 0,1€/min, além disso um carregamento em PCR para ser optimizado tem de ser realizado entre x e y percentagem da bateria, enquanto que o carregamento em PCN é mais linear, mas é compreensivel a questão dos VEs monofásicos não poderem considerar os PCNs com estes preços.

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Re: A culpa é do modelo?

Mensagem por mjr » 11 dez 2020, 13:35

Gostava que me explicassem onde é que o factor eletricidade entra para as contas do OPC. Ele não compra nem vende eletricidade, apenas fornece o uso do seu equipamento.

Como disse, o valor que cobra é completamente líquido de custos com eletricidade, servindo para amortizar os equipamentos, custos operacionais com manutenção e lucro. Se ele não vende eletricidade, qual é a relevância de ele não poder comprar e vender eletricidade para o custo que apresenta, ainda por cima porque está a vender o serviço ao minuto? Pelo modelo o OPC nem sequer tem de pagar a potência contratada do posto! Essa parte está incluída na TAR da ME, paga ao... CEME.

Têm que nesta comparação retirar o factor CEME no custo, pois a parcela deste é sempre a mesma para a mesma quantidade de energia carregada. O único fator que varia é o valor OPC.
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Re: A culpa é do modelo?

Mensagem por BrunoAlves » 11 dez 2020, 15:25

mjr Escreveu:
11 dez 2020, 13:35
Gostava que me explicassem onde é que o factor eletricidade entra para as contas do OPC. Ele não compra nem vende eletricidade, apenas fornece o uso do seu equipamento.
Como acho que é óbvio, sem o modelo não há CEME. Sem CEME o dono do posto "compra electricidade" no mercado e vende o serviço completo. Mais uma vez, rede do Continente ou qualquer outra rede lá fora.
mjr Escreveu:
11 dez 2020, 13:35
Pelo modelo o OPC nem sequer tem de pagar a potência contratada do posto! Essa parte está incluída na TAR da ME
Aqui perfeitamente de acordo. E por fazer contas ao custo da disponibilidade de potência é que digo que num PCN só vai ser possível ter custos justos para o dono do posto e para o UVE sem modelo e com fornecimento a partir de estruturas existentes, onde essa parcela (disponibilidade de potência) não seja relevante por estar diluída no restante da instalação.

Juntando os 2 pontos anteriores, então sim acho que poderá ser possível ao dono do posto oferecer um serviço a um preço justo quer para si quer para o UVE. Custos de potência não relevantes, energia comprada a custos muito baixos. Com o modelo isso não é possível.

Em postos que não cumpram este requisito ou para potências muito baixas de carregamento não vejo forma nenhuma de ter valores justos. Com ou sem modelo, fornecer 3,6kWh a cada hora, facturados a uns 25-30cts/kWh preço total é basicamente um favor que o operador faz, com ou sem CEME. Não há forma de haver qualquer rentabilidade nisto, não há volume. Para estes casos um sobrecusto de uma tomada (a usar com o EVSE de cada um) adicionado ao custo de estacionamento é a única forma que imagino de fazer algum negócio, neste caso trocando o volume do consumo de um veículo pelo volume de muitos veículos a consumir pouco.
Edit: por exemplo a minha irmã paga uma avença de estacionamento em Coimbra, num parque coberto. Imagino tornar essa avença mais cara e ter um lugar reservado com uma tomada, eventualmente com contador como o que o pessoal faz para pagar aos condomínios.

E acrescento: se temos uma TAR subsidiada e cuja implementação está em alguns casos a oferecer margem ao CEME (ou alguns CEME pelo menos) seria perfeitamente possível desviar esse subsídio para a operação de quem de facto é responsável por haverem postos de carregamento. Por exemplo, isentar os custos de potência dos postos isolados e/ou de baixa potência.
Última edição por BrunoAlves em 11 dez 2020, 15:41, editado 1 vez no total.
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Re: A culpa é do modelo?

Mensagem por mjr » 11 dez 2020, 15:36

Não sei se estás a perceber a questão inicial, que é apenas e só a estrutura de preços, ou seja ser mais cara a parte OPC em PCNs de 22kW do que PCRs de 50kW.

De que maneira é que a teu ver o modelo provoca isto e porque não seria assim sem o modelo.
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Re: A culpa é do modelo?

Mensagem por rimsilva » 11 dez 2020, 16:15

BrunoAlves Escreveu:
11 dez 2020, 15:25
Como acho que é óbvio, sem o modelo não há CEME. Sem CEME o dono do posto "compra electricidade" no mercado e vende o serviço completo. Mais uma vez, rede do Continente ou qualquer outra rede lá fora.
Reforço este ponto com a questão da produção da energia, que ainda recentemente foi noticia em Inglaterra com este projecto:

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Em Portugal este alternativa está pura e simplemente vedada aos OPCs e mais uma vez refiro que dá aos CEME um papel de que a ME não precisa.

Assim como, o facto de "obrigar" o OPC a centrar-se apenas na componente do serviço (reconheço que ainda há, felizmente, algumas excepções), leva seja estabelecido uma parcela do preço sem preocupação do preço final!

Claro que o "modelo" não peca só por aqui, há a teimosia de equiparar a energia da ME ao negócio da energia em casa e as suas taxas, quando na realidade deveria ser uma realidade totalmente independente com insentivos de forma a promover a ME.
No final temos o marketing de que somos pioneiros e os visionários da ME, mas a realidade é muito triste e dura!

Poderia fazer exactamente a mesma analise em relação à politica de incentivo e legislação verde em Portugal, que de verde e justo tem muito pouco!
BrunoAlves Escreveu:
11 dez 2020, 15:25
Edit: por exemplo a minha irmã paga uma avença de estacionamento em Coimbra, num parque coberto. Imagino tornar essa avença mais cara e ter um lugar reservado com uma tomada, eventualmente com contador como o que o pessoal faz para pagar aos condomínios.
Essa situação já existe há um bom par de anos no Porto, posto em prática pela Prio. Mas mais uma vez, são as situações obscuras da nossa ME, que acabam por beneficiar só as empresas.

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Re: A culpa é do modelo?

Mensagem por fernandinand » 11 dez 2020, 16:25

É mais ou menos isto...
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Re: A culpa é do modelo?

Mensagem por BrunoAlves » 11 dez 2020, 16:31

mjr Escreveu:
11 dez 2020, 15:36
Não sei se estás a perceber a questão inicial, que é apenas e só a estrutura de preços, ou seja ser mais cara a parte OPC em PCNs de 22kW do que PCRs de 50kW.

De que maneira é que a teu ver o modelo provoca isto e porque não seria assim sem o modelo.
Sim, claro que estou. E acho que não se consegue dissociar de poder ou não ter controlo da origem de energia.
A confusão é que eu acho que a componente OPC não é mais cara num PCN do que num PCR. Um PCN a 4cts/min rende 2,4€/h ao OPC (5cts/min de facto é um bocado duro, mas numa situação pontual já o paguei e siga!), um PCR a 0,1€/min rende 6€/h.
O PCN numa hora pode debitar 22kWh (o meu carro com carregador de 22kW "cola-se" a essa potência sem espinhas), o PCR uns 45kWh. O dobro da energia, mas 2,5x o preço.

Ou seja, pago 2,4€ ao OPC e carrego 22kW, essa parte custa-me 10,9cts/kWh (+ IVA). O OPC facturou 2,4€ mais ou menos "limpos". Entretanto ao CEME, Estado, etc, paguei 4,11€ (+ IVA).
Na condição que eu indiquei, sem CEME e instalação com potência que os 22kW nem fazem cócegas - e que assumo que seja o que faz o Continente - a energia sem custos de potência custa-lhes uns... vá... 10cts/kWh (que não é, provavelmente nem metade!), se eu pagasse os mesmos 6,51€ (+ IVA) o OPC tinha tido o custo de 2,2€, logo teria um receita mais ou menos "limpa" de 4,31€. Quase o do dobro do que tem com o modelo.
Para potências mais baixas, naturalmente que a margem teria de ser menor para permitir valores mais razoáveis ao UVE. Por exemplo, cobrar 30cts/kWh (que já é muito sem dúvida) dar-lhe-ia uma margem de 20cts/kWh. 4,4€/h a 22kW, 2,2€/h a 11kW, 1,44€ a 7,2kW. Na média destes valores estaria uma rentabilidade que seria sempre muito superior à actual.
Mais uma vez repito: TODAS as redes privadas têm custos para o UVE inferiores à rede pública, a prova está no pudim.

O "problema" é que não estamos a falar de 22kW. Estamos a falar de 11kW e de 7,2kW, ou até de 3,6kW. E aí a componente do OPC entrar "a doer" no custo por kWh.
Sobre os 3,6kW já o disse acima, é uma caridade que o operador faz e a única forma que eu encontro de olhar para isto numa perspectiva de negócio é com tomadas. Reparem que um cabo preso num posto destes em que o OPC seja multado em 400€ são semanas ou MESES de operação até este custo ser recuperado. Mas mesmo que não sejam multados, deslocar um técnico de madrugada para uma eventualidade destas nunca mais se paga.
Ou então, postos públicos, postes de iluminação, etc, em que as câmaras assegurem a função do OPC.

O fundamental é que eu não queria para mim (acho que ninguém aqui quereria) um negócio que rende 1,8€/h no máximo, considerando os 3cts/min (que a 7,2kW já são totalmente incomportáveis para o UVE e mesmo a 11kW já fazem doer muito).
Para 1ct/min seriam 0,6€/h de receita bruta. Não é negócio.

E é bom recordar que agora o OPC já tem de ter um backoffice, já tem de ter Help Desk 24h/dia (ainda que isso não esteja a ser completamente cumprido, mas ok...), tudo coisas que nos inícios destas conversas se diziam que não teriam de ter e isso eram grandes vantagens do modelo. Afinal vai-se a ver e nem por isso.
Se forem conduzir, não bebam. Se forem beber, chamem-me!!! :D

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