mjr Escreveu:Nós como compradores de um VE apenas analisamos as condições do mercado para realizar a nossa escolha. O facto de os combustíveis fósseis derivados do petróleo terem uma carga fiscal elevada e a eletricidade não o ter, bem como a fiscalidade automóvel estar à volta do motor de CI com as variáveis cilindrada e emissões diretas de CO2, são obviamente condicionadoras de um pender da balança para automóveis fora da esfera petróleo e motores CI. Como cliente final obviamente que não vamos tomar decisões baseadas no preço que um bem poderia ter caso não existisse um incentivo/penalização.
Entendo que sim e fazem muito bem. Mas terá de conceder que só uma elite de portugueses tem a capacidade de dispender €35.000 para a compra de um veículo pelo que até socialmente esta distorção fiscal prejudica os portugueses mais pobres.
E quando comparamos a competitividade económica de cada solução tecnológica naturalmente temos que colocar todas as propostas na mesma base. Os impostos são locais e variam de país para país. As características de um Leaf vs um 308 Hdi são igiais em todo o mundo.
mjr Escreveu:
O único prisma onde podemos realizar discussão é se está correto o atual sistema de impostos que penaliza os combustíveis fósseis, especialmente os derivados de petróleo. Na minha opinião está. Algumas razões:
- Portugal não é país produtor de petróleo, logo necessita de o importar. Como deve saber a balança comercial portuguesa sem a importação de combustíveis fósseis teria um excedente das exportações sobre as importações. É óbvio que estes produtos importados têm de ter uma carga fiscal elevada para racionar o seu consumo de modo a minimizar as importações. Aliás esta carga fiscal elevada já vem de há muitos anos, provavelmente sempre existiu.
Ao contrário do que muita gente acha considero que os combustíveis fósseis não estão demasiadamente caros em Portugal. Apesar de tudo a quebra do consumo não é exagerada.
mjr Escreveu:
- A maior parte da fonte primária de energia para a geração de eletricidade é endógena. Penso que apenas a parte correspondente ao gás natural resulte em importações. Deste modo a eletricidade tem um contributo diminuto para o desequilíbrio das nossas contas externas e tem por isso que ser fomentada como fonte de energia. Daí a sua menor carga fiscal.
A única fonte de electricidade endógena e sustentável que existe em Portugal é a hídrica. A eólica é demasiadamente cara e tem custos que ultrapassam largamente o contributo que dão para a diminuição de importação de combustíveis fósseis.
mjr Escreveu:
- Os VE não realizam emissões poluentes nos locais onde estão as pessoas ao contrário dos CI. Deste modo não contribuem para uma série de doenças respiratórias e cancerígenas que a poluição gerada pelos escapes dos motores CI provoca. Claro que isto tem de ter fomentado fiscalmente. Mesmo contabilizando as emissões poluentes geradas em locais remotos dos grandes centros populacionais, estas são de muito menor escala pois grande parte do mix energético tem fontes renováveis. No fundo apenas a eletricidade obtida através de carvão tem emissões poluentes, mas está várias ordens de magnitude abaixo da gerada pelos motores CI devido à sua reduzida expressão no mix energético. As centrais a gás natural são extremamente limpas não emitindo qualquer emissão poluente (não considerando o CO2 como diretamente poluente, e mesmo nesse campo são muito poupadas).
Concordo e escrevi no meu blog que os VEs são uma boa solução, com um preço adequado, para a diminuição da poluição nos centros urbanos. Eu próprio adquiria um para as minhas deslocações diárias. Mas não pode ser incentivoado desta forma pois no dia em que tiver algum impacto prático provoca a ruína das contas públicas.
E depois se o estado incentivasse tudo aquilo que é benéfico para as populações discriminava impostos sobre produtos alimentares, sobre serviços, etc. Tornava-se uma ditadura do bem-estar.
Também já escrevi no meu blog que a prioridade ambiental e de diminuição da importação de petróleo em Portugal devia ser apostar em transporte colectivo eléctrico para substituir transporte privado a petróleo. Se o país for capaz de mudar este paradigma então haverá real impacte na qualidade ambiental das cidades. E é uma mudança acessível a todos os portugueses e não às faixas mais endinheiradas.
mjr Escreveu:É um assunto (cada vez menos) controverso o das emissões de gases com efeito de estufa (CO2, CH4, etc) , mas nesse ponto os VE estão também muito melhores que os CI. De acordo com EDP, em 2011 foram emitidas 223g CO2/kW.h, o que significa que o LEAF emite indiretamente menos de 50g CO2/km. Metade do emitido pelos melhores CI. Isto tem de ser fomentado fiscalmente.
Pessoalmente prefiro que o abaixamento da emissão de poluentes de Portugal se faça com electrificação do transporte colectivo e introdução da energia nuclear. Soluções que não precisam de incentivos fiscais pois são intrinsecamente competitivias. E uma vez mais volto a repetir, no dia em que o número de carros eléctricos fosse suficiente para criar uma diminuição da emissão de gases s sistema de incentivos seria insustentável e as pessoas revertiam ao carro CI o que tornaria todo o processo um desperdício de dinheiro. Para além disso, com a actual política energética portuguesa a produção de electricidade atingiria custos proibitivos.
mjr Escreveu:
- Os VE podem ser carregados durante a noite, o que permite equilibrar o diagrama de cargas da rede elétrica e evitar os desperdícios noturnos. Isto tem de ser fomentado fiscalmente.)
O equilíbrio dia/noite do diagrama de cargas só tem real interesse para fontes muito rígidas (nuclear) ou intermitente (eólica). A primeira ainda nem sequer é debatida em Portugal. A segunda não tem competitividade de preço, fiablidade ou escala para alimentar uma massificação do carro eléctrico.
mjr Escreveu:
- Os VE permitem uma maior independência energética. Ficamos muito mais protegidos de conflitos que façam disparar o preço dos combustíveis fósseis.
mjr Escreveu:
A questão sobre as futuras perdas de receitas fiscais quando os VE se massificarem é na minha opinião uma não questão. É óbvio que à medida que o parque automóvel se for eletrizando a carga fiscal terá de começar a aumentar nos VE. Há muitas maneiras de o fazer. Mas não é quando uma tecnologia favorável ao país está a entrar no mercado que se deve realizar esse ajuste fiscal. É progressivamente, permitindo que a massificação da tecnologia faça os preços baixarem de modo a que se torne possível a cobrança de impostos nesses veículos.
Como também discuti no meu blog a massificação do VE tal como promovida por Sócrates teve o objectivo de passar para os privados parte da dispendiosa construção de um sistema nacional de armazenagem de energia elólica excendentária. A outra parte é o famoso plano nacional de barragens, um plano que custará uma fortuna a todos os contribuintes portugueses.
Que os outros países europeus com excesso de eólica o façam (Alemanha e Dinamarca) é lá com eles, são países ricos que se podem dar a estes luxos. O voluntarismo português nesta matéria é um suícidio económico. Para além disso começa a tornar-se irrelevante pois cada vez se adivinha mais que as metas de instalação de potência eólica em Portugal nunca serão atingidos (o sector eléctrico está falido) o que torna dispensável a capacidade de armazenamento nocturno das novas barragens e dos VEs.
Já tenho visto vários estudos de previsão de integração de carro eléctrico no parque automóvel mundial e existe consenso de que ele será inferior a 10% em 2030. Por isso a massificação do carro eléctrico não acontecerá no curto prazo. Manter incentivos fiscais duas décadas em Portugal tem um interesse estratégico nulo. Ao contrário da Dinamarca e Alemanha Portugal não tem indústria eólica pelo que nada ganha em a incentivar. E Portugal também não tem indústria automóvel pelo que nada ganha em atribuir incentivos ao carro eléctrico.